PROFESSOR. HERÓI, JAMAIS! - Meu nome é Johni

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PROFESSOR. HERÓI, JAMAIS!

PROFESSOR. HERÓI, JAMAIS!

No último sábado, 15 de outubro, celebrou-se o dia dos professores. Como de costume, alguém lembrou em algum lugar que um país não se faz sem aqueles que ensinam. É praxe que, ao menos um dia a cada ano, alguém recupere esta verdade – a data certa na folhinha ajuda a lembrar o que se esquece nos demais dias. E todos cumpriram as regras desta nossa nova etiqueta social: as redes reuparam edificantes mensagens já compartilhadas de outros anos, uma cena comovente de fingir homenagear e de fingir-se emocionado.

Porque a virtualidade destas homenagens é o seu único traço de real. Em um país que festeja a ignorância e o obscurantismo, que mais valoriza os encaminhamentos de what’sapp do que a pesquisa e o livro, que concede aos Olavos de plantão um crédito que nega a quem de fato lê e estuda, como supor, nestes não mais que meros códigos sociais, qualquer valorização real da atividade docente?

No concreto da vida, são muitas as dificuldades que professoras e professores enfrentam juntoàs urgências de ensinar e de viver. Uma carga de trabalho que excede extraoficialmente as 40 horas semanais, invadindo porta adentro o que seria um lugar de descanso, a casa, e uma hora de sono, a madrugada; um salário que não acompanha, nem de longe, o volume trabalhado no mês ou os preços flutuantes do mercado; as pressões (e as ameaças) exercidas por estudantes, pais, diretores, secretários, vereadores, deputados e presidente, todos mais sabedores do que e do como ensinar; uma escola defasada naquilo o que diz e ensina, em completo descompasso com as linhas mais contemporâneas dos campos de saber que organizam as disciplinas; uma ausência quase generalizada do desejo de aprender, o qual se encontra capturado por um instrumentalismo teleológico que deslegitima os exercícios do pensar e da crítica; a pornográfica deficiência de investimentos e o consequente sucateamento de escolas e universidades públicas; a mais absoluta falta de respaldo e o adoecimento físico e psíquico a que estamos sob risco.

É preciso rompercom a narrativa que, reconhecendo a terra arrasada do cenário acima, no entanto romantiza o professor, tomando-o como herói.

Primeiro: o herói não goza em plenitude da glória que lhe conferem, pelo contrário, é no perpétuo de seu sofrimento e na continuidade de seu sacrifício que o sentido heroico é forjado. Não há qualquer alegria em ser herói – e os professores devem entender que sê-lo, ou acreditar sê-lo, é apenas uma frágil compensação imaginária, que mais legitima do que altera o real.

Segundo: a elevação do professor ao status de herói corresponde, no concreto das coisas, a dar um verniz de beleza àquilo que, na prática, é a falência da possibilidade de ensinar. As condições precárias de trabalho e de vida a que estão reduzidos os professores são naturalizadas, uma vez que se entende competir a estes profissionais uma constante criação de meios e alternativas – o que implica naturalizar também, como se fossem do professor, obrigações que não são dele e que ele não deveria assumir. O professor não é o responsável pela educação: ele é apenas uma parte do processo, uma das forças que o movem.

Terceiro: ao herói, ser altamente idealizado, é negada a dimensão humana da existência, sua composição cárnica, feita de alegria e dor; sonhos, frustrações e fome. Ninguém serve ao herói, que atravessa suas questões isoladamente, em solidão, mas cobra-se dele que sirva aos outros. Cabe ao professor-herói resolver todas as fragilidades estruturais que envolvem e dificultam o ensino em nosso país, mas, quem dá a mão ao professor? Quem ocupa as ruas para exigir melhores condições de trabalho e de salário? Quem, ao fim do semestre ou do ano, sustenta o rigor da correção realizada? Quem nos apoia quando fazemos a greve? Aliás, não somente não nos apoiam, como nos rebaixam de heróis a vagabundos. O herói apenas o é enquanto serve sem a possibilidade de também ser servido.

Não é com um cartão de frases feitas, requentado ano a ano ou estrategicamente montado pelo marketing das empresas que nos matam, que os professores serão homenageados.  Nem com as letras (sacanas) que compõem a palavra herói, mesmo se pintadas coloridas ou impressas com mil adornos.É com um salário digno e compatível com o tanto de vida que investimos na profissão. É com uma estrutura adequada de trabalho e a divisão igualitária das responsabilidades inerentes aos atos de ensinar e de aprender. É com a valorização do estudo e do saber. É com estar junto. É com engajamento e luta na concretude das salas, dos corredores, das ruas. E não apenas no dia 15 de outubro.

Essa luta é de todos nós.

A LUTA CONTINUA. JOHNI VIVE!

Imagem:  reprodução da internet

17/10/2022 | Autor: Comunidade Johni Raoni 

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