POR OUTRAS MATRIZES DE PENSAMENTO - Meu nome é Johni

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POR OUTRAS MATRIZES DE PENSAMENTO

POR OUTRAS MATRIZES DE PENSAMENTO

Recentemente, reli o texto “cara colega de universidade,”, de Bruna Moraes Battistelli. Fiz a leitura junto a estudantes, em sua maioria, do primeiro semestre do curso de Letras da Universidade Federal de Alagoas. A ideia era provocar o corpo discente recém-chegado à universidade a perder certa ingenuidade passiva diante daquilo o que a instituição apresenta como conhecimento. Ou seja, apontar, desde a primeira semana de aula, para a necessidade de certa desconfiança, de certo olhar crítico em relação às matrizes de pensamento que circulam no ambiente universitário. Porque, e isso me parece uma questão central do nosso tempo, não é mais possível aderirmos docilmente à matriz colonial de poder, repetindo-a ad infinitum.

Naquele texto, que é uma carta/ensaio dirigida a uma colega de profissão e de vida, Bruna Moraes Battistelli atua pela abertura da universidade a outros exercícios de pensamento – tanto do ponto de vista de uma relocalização teórica, assumindo como eixo epistêmico a produção de pensamento a partir de corpos dissidentes da matriz euro-estadunidense, quanto da escrita de nossas pesquisas, pois há certos conteúdos que pedem outro regime discursivo que não o tradicional artigo acadêmico: cartas, diários ou ensaios que borrem a fronteira entre o artístico e o acadêmico.

O fato é que, apesar de o pensamento decolonial ter avançado bastante nos últimos anos, a nossa universidade – e, tanto mais perigoso, todo o nosso sistema educacional – é colonizada. Isso significa que, em geral, o pensamento produzido desde a Europa ou, mais recentemente, desde os Estados Unidos – dois tempos e duas formas do poder colonizador – é assumido como universal, isto é, como produção teórica não localizável no espaço-tempo e, portanto, alçada à condição de referência para se pensar qualquer espaço e qualquer tempo, disfarçando assim a natureza geopolítica de sua imposição.

O que resulta desse cenário é a rarefação do pensamento, condenado a alinhar-se e repetir uma mesma matriz – ainda que esta mesma matriz possa produzir teorias de diferentes matizes e vibrações. Mesmo quando consumimos a crítica à ocidentalização do mundo, o fazemos a partir de pensadores ocidentais dissidentes – mas geograficamente situados a partir do norte global. Pensadoras e pensadores que falam em função de uma localização espaço-temporal outra, que não a modernidade europeia, são amplamente desconhecidas e desconhecidos. Quando muito, constituem referências em componentes curriculares específicos, quando estes existem. Tratam-se de ilhas de discussão que demarcam uma localização espaço-cultural, tais como “literaturas africanas” ou “literaturas indígenas”. Muito pouco.

O que se passa na educação básica é ainda mais grave. Salvas as exceções de profissionais que têm um engajamento pela pluralização epistêmica, o silenciamento de vozes dissidentes da doxa ocidental é total. Obviamente, reconheço que há livros escolares que trazem um ou outro texto de autoria indígena ou africana. No entanto, o modo de ler estes textos não se altera. O indígena e o africano comparecem como o outro nos livros escolares, ou seja, continuam sendo falados pela doxa ocidental ao invés de proporem modos próprios e singulares de pensamento.

Tudo isto resulta na permanência da produção de silêncio e de invisibilidade que é decorrente de uma geopolítica colonial responsável por estruturar o ocidente euro-estadunidense como única referência de mundo. Como é possível pautar uma política efetivamente democrática se certas atrizes e certos atores sociais não são reconhecidos, em suas singularidades, como forças significantes do mundo?

Bruna Moraes Battistelli convoca a uma experiência radicalmente outra de universidade, uma universidade que se desgarra do princípio unificador de seu prefixo e se reconstrói como pluriversidade, não apenas de portas abertas para a entrada de todos os corpos e todas as diferenças – movimento fundamental –, mas, sobretudo, de cabeça aberta para todas as matrizes de pensamento e significação do mundo. Porque, enfim, todo uni nos reduz por submissão ao colonial.

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A LUTA CONTINUA. JOHNI VIVE!

Imagem:  Adam Lau/Berkeley Engineering

18/08/2023 | Autor: Comunidade Johni Raoni 

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