A origem do Blog - Meu nome é Johni

Meu nome é Johni
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A criação do blog www.meunomejohni.com.br em 2013 foi motivada pela necessidade em se retratar, de forma mais parcial possível, o brutal assassinato do jovem Johni Raoni, por um grupo de neonazistas no dia 03 de setembro de 2011 em frente a uma casa de shows em Pinheiros, São Paulo. Em novembro de 2014, um dos responsáveis pela tragédia foi finalmente a júri popular e condenado a cumprir 15 anos de prisão em regime aberto. Somente após ter assassinado a sua tia em 2015 e, de ser denunciado pelo pai, o criminoso de ideologia neonazista foi condenado e preso e, quanto aos demais apontados como participantes, nada foi feito até o presente momento. No seu início, principalmente, o blog funcionou como uma mídia alternativa na condução do caso, já que a grande imprensa – tanto televisiva quanto escrita, abordou o fato de forma parcial, com isso tornou-se urgente criar uma mídia que mostrasse outra versão para os fatos. Além de servir como bandeira de luta contra o preconceito e a discriminação praticados por grupos neonazistas contra nordestinos (as), afrodescendentes, imigrantes pertencentes a estratos sociais desfavorecidos, refugiados (as), LGBT’S e punks. Em seu perfil atual, a mídia se reinventa ao se comprometer tanto a denunciar casos de intolerância quanto servir de espaço para que diferentes vozes silenciadas pela sociedade possam se expressar e, ao mesmo tempo, clamar pelo respeito à diversidade.

Comunidade Johni

Nascido em São Paulo no dia 10 de maio de 1986, Johni Raoni Falcão Galanciak, ou simplesmente Johni, notabilizou-se como um dos mais expressivos integrantes do cenário punk paulistano na primeira década do século XXI. Anarquista convicto, Johni sempre atuou com veemência nas manifestações de combate à exploração do capitalismo e das lutas antixenofóbicas, antirascistas, contra a homofobia e o nazifascismo. Curiosamente Johni veio ao mundo no mesmo dia em que Sid Vicius, baixista da banda punk Sex Pistols, nasceu. A composição de seu nome foi uma homenagem à todas as crianças (Johni é um dos nomes mais comuns do mundo) e ao grande cacique Raoni da tribo dos Txucarramae.

Sua infância foi estável. Estudou em escola pública e passava as férias em Salvador-BA, cidade natal de sua mãe que teve uma discreta participação no movimento punk no início dos anos oitenta. Essa convivência com o povo soteropolitano fez de Johni um dos defensores dos direitos dos nordestinos residentes em São Paulo que sofrem com o preconceito de grupos xenofobias.

Sua feroz oposição aos neonazistas tem sua origem no fato de que seu avô paterno, sendo polonês, tenha passado pelos horrores provocados pelos hitleristas durante a II Guerra Mundial (1935-1945). Sua entrada para o Movimento Punk deve-se em parte ao fato de seu pai ter sido integrante como vocalista e compositor da banda Excomungados (1982-1996). Outro motivo e o mais decisivo talvez, tenha sido sua indomável rebeldia ou revolta contra as injustiças do cotidiano desta sociedade materialista em que vivemos. Johni era uma pessoa contraditória, embora adotasse o punk como estilo de vida, não era individualista, era solidário e ingênuo muitas vezes. Em abril de 2001, prestes a completar 15 anos, Johni foi à um evento em comemoração aos 25 anos do Movimento Punk realizado na Funarte (SP), organizado por Antonio Bivar e Ariel da banda Invasores de Cérebros.

Lá teve seu primeiro contato com os itens que compõe a cena punk: ali comprou seu primeiro CD- “Tente mudar o amanhã”- da banda Cólera. Assistiu pela primeira vez a apresentação da banda Hino Mortal (uma de suas preferidas). Visualizou a indumentária, jaquetas, bótons, botas, correntes, cabelos espetados e moicanos. Adquiriu inúmeros fanzines. Enfim tornou-se um punk. Daquele dia em diante adotou o nome de Johni 38 (38 era o número de seu carrinho de corrida quando criança). A partir de então a cidade de São Paulo tornou-se pequena para ele. Onde quer que houvesse um encontro sonoro sua presença era marcante: Perus, São Mateus, Jandira, Taboão, Jd. Ângela, Jaçanã, Butantã, Brasilãndia, Carapicuiba, Jabaquara, Lapa, Centro, etc.. Ao mesmo tempo que se destacava como ativista punk organizando eventos beneficientes, manifestações e passeatas crescia o ódio por parte dos grupos neofascistas (skins-heads nazistas) que viam nele uma ameaça como um símbolo vivo da anarquia. Johni passou  a ser um ícone que deveria ser eliminado pelos carecas neonazistas.

Em 2006, após um show Johni pegou carona com rapazes que se passaram por amigos, e após levá-lo para um local distante, quiseram roubar sua jaqueta e o esfaquearam. Johni não entregou a jaqueta e por isso as perfurações não o mataram, e ele passou a receber mensagens de integrantes do grupo nazista Front 88 sobre o acontecido, podendo reconhecer seus agressores.

Em outubro de 2007 após um show da banda novaiorquina Casualities, no Hangar 110 (Bom Retiro) cerca de 10 nazi-skin entraram em confronto com um grupo de punk. O líder do Front 88, foi espancado em plena Av. Tiradentes. A polícia guiada pelos nazi-skins e sem provas nítidas, prendeu nove punks, todos pelo visual. Entre eles estava Johni que ficou um ano e meio preso no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros. Johni foi solto em maio de 2009, considerado inocente por falta de provas, e retomou com maior vigor suas convicções.

Em setembro de 2011, Johni junto com um grupo de punks foi a um show da banda Cocker Sparrer no Carioca Clube em Pinheiros-SP. Ao chegarem por volta das dezenove horas foram recebidos por uma emboscada armada pelos carecas neonazistas, munidos de rojões, facas, punhais, porretes e até revólver. Pegos de surpresa os punks revidaram com pedras ou se dispersaram. Johni foi cercado por vários carecas neonazistas que lhe desferiram mais de dez facadas.

Forte de corpo e alma Johni permaneceu vivo por uma hora e meia. Levado ao Hospital das Clínicas veio a falecer às 20:42h do dia 3 de setembro. Os assassinos de Johni comemoraram sua morte como um troféu conquistado. Todos os autores de tamanha covardia ainda estão soltos, mesmo com o conhecimento das autoridades.

Eu conheci Johni.

O cara mais punk que eu já vi.

Johni vive

Êra punk, êra Johni.

Marfalgak