PELA ESPERANÇA - Meu nome é Johni

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PELA ESPERANÇA

PELA ESPERANÇA

Em 2022, o primeiro texto que escrevi para este blog veio com uma acentuada nota de luto. Foi uma homenagem à trajetória do ator, produtor e ativista negro Sidney Poitier, falecido, aos 94 anos, no dia 6 de janeiro. Neste, que vem a ser o último, outra é a matéria a ser celebrada: não a vida vivida, mas aquela ainda por se viver.

            É que não abdico de me encantar, ainda que incrédulo de astrologia e coisas afins, na simbologia inerente à mudança de um ano para outro. Por mais que esta seja uma imagem clichê, o segundo em que dezembro se remoça em janeiro muda tudo. Não estou me referindo a nenhum tipo de mágica por intermédio da qual tudo o que é feio, ruim ou errado se faz exilado onde não sei, um provável desterro longe de todo quando. As nossas contas por pagar permanecem em aberto no instante em que 31 se faz primeiro, e também a nossa dificuldade, às vezes extrema, em quitá-las. Aqueles que nos violam o corpo, a dignidade e a vida continuam por aí, soltos. Mas há, nesse momento de virada, um olhar que se volta para trás, rememora os trancos do vivido, a ginga dançada de cada drible no destino, e que é certeza de que sabemos, apesar de tudo, produzir ainda um dia a mais. E há também, concomitante ao primeiro, um segundo olhar. Este se lança a perder de vista num amanhã por vir – é a esperança renascida, uma aposta na natureza sempre em aberto do devir da história. E é isto o que altera ou, ao menos, pode alterar a ordem das coisas.

            Há quem diga que a esperança seja, ao invés de uma força, uma espécie de contraforça. Isto é, um lugar de passividade e não de agenciamentos. Neste sentido, avessa a levantes e revoluções,ela estaria ao lado da manutenção do mundo tal como ele o tem sido. Entendo a lógica do argumento e o perigo, sempre presente,de a esperança degenerar em espera, sobretudo do tipo que apela para soluções do gênerodeus exmachina. No entanto, é minimamente factível que um movimento de mudança se instaure sem que haja um lastro qualquer de esperança que o sustente? Se Caetano estava certo ao cantar, em “um comunista”, que “vida sem utopia / não entendo que exista”, talvez possamos complementar dizendo, ainda que ferindo a métrica da canção, que “utopia sem esperança / também não”.

            Veja, há uma esperança que não é aquela que delega destinos ao que quer que seja; uma esperança que atua na imanência da vida, no aqui das coisas, na carne quente dos corpos. Essa esperança tem o feitiço necessário para driblar o cenho mais que fechado dos impossíveis em derredor, neles encontrando um rasgo, uma fratura, um ponto de viragem para possíveis em flor.

            Não é à toa que tanto trabalham para nos entristecer as esperanças que desencavamos a cada primeiro de janeiro. Querem-nos cordatos, pacientes, resignados. Querem-nos bichinhos de estimação. No entanto, mesmo que façam a vida ser próxima ao impossível, “nós seremos pra sempre os dissidentes furiosos desta causa”, como bem diz a personagem Valériade “Sísifo”, peça de Gregório Duvivier e Vinícius Calderoni.E o seremos porque esperança nenhuma tem compromisso com o impossível enquanto impossível, apenas com sua passagem para aberturas em profusão.

            Com isso, quero abraçar a quem lê este blog; desejar um Natal de muita alegria a quem for de Natal e um maravilhoso ano novo a todes, todas e todos.

            (aliás, cá pra nós, um ano em cujo primeiro dia se dará a deposição daquela coisa abjeta, que é o Jair Messias Bolsonaro, do cargo de Presidente da República já se apresenta, de imediato, como maravilhoso, não é?)

A LUTA CONTINUA. JOHNI VIVE!

Imagem: Reprodução da Internet

25/12/2022 | Autor: Comunidade Johni Raoni 

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