QUE PAÍS É ESTE?
“Uma coisa é um país, / outra o aviltamento”, diz o poema Que país é este?, de Affonso Romano de Sant’Anna.
Era janeiro de 1980.
Estamos em agosto de 2022.
Mais de 42 anos nos separam daquela data em que o Jornal do Brasil publicou o texto que se iniciava com uma pergunta.
42 anos e, no entanto, ontem.
O tempo não é linear, não é feito flecha movida apenas em uma direção. Há curvas, recuos e permanências.
A despeito do que dizem, o passado não é o que passou, mas o que resta como memória, fantasia ou fantasma. Um monstro jamais abatido.E que pressiona por sua volta.
42 anos e, no entanto, hoje.
Leio as reportagens publicadas por Metrópoles e não consigo não reproduzir os versos do poeta mineiro. Alguns dos principais empresários deste país cogitam um golpe caso Luís Inácio Lula da Silva seja democraticamente eleito.
Não é a primeira vez em nossa história. Em 1964 os militares não estavam sozinhos: a elite financeira deste país patrocinou o golpe.
Em 2016, Eduardo Cunha e outros 366 deputados não estavam sozinhos: a elite financeira deste país patrocinou o golpe.
Agora, em 2022, alguns dos principais empresários deste país cogitam um golpe caso Luís Inácio Lula da Silva seja eleito. Democraticamente.
Que o capital não tem qualquer apreço à democracia, nenhuma novidade.
Que a nossa elite econômica não tem qualquer compromisso com a construção deste país como um país, nenhuma novidade.
Que no privado de seu em comum, a nossa elite se desvela pelo avesso do que se mostra publicamente, nenhuma novidade.
“Há 500 anos caçamos índios e operários, / há 500 anos queimamos árvores e hereges, / há 500 anos estupramos livros e mulheres, / há 500 anos sugamos negras e aluguéis”, continua o poema de Affonso Romano de Sant’Anna.
Nenhuma novidade.
A violência. A truculência. O apelo antidemocrático. O crime. A mentira. A misoginia. A lgbtfobia.
Tudo está à mostra, em prints de what’sapp. Os nomes estão lá, bem como as marcas a que se associam.
Fosse este um país, ao invés de um aviltamento, haveria protestos nas ruas e às portas das lojas, haveria um sistemático boicote. Haveria uma punição tão dura quanto grave é o gesto de atentar contra a democracia.
Contudo, haverá quem diga se tratar de fakenews e haverá quem, por esquecimento seletivo, decida fingir acreditar nisso. O conluio elitista e antidemocrático não é pequeno, nem burro. Tem as suas artimanhas. É das forças mais duradouras e perversas deste Brasil.
Sim. Uma coisa é um país, outra o aviltamento.
A LUTA CONTINUA. JOHNI VIVE!
Imagem: reprodução da internet