E QUEM OUVE É UMA MENINA. CRIANÇA DE 11 ANOS. VÍTIMA DE ESTUPRO. - Meu nome é Johni

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E QUEM OUVE É UMA MENINA. CRIANÇA DE 11 ANOS. VÍTIMA DE ESTUPRO.

E QUEM OUVE É UMA MENINA. CRIANÇA DE 11 ANOS. VÍTIMA DE ESTUPRO.

O que me espanta, no caso da juíza Joana Ribeiro Zimmer, não é o exercício da arbitrariedade em relação às leis deste país – mais especificamente, a lei que autoriza a interrupção da gravidez em caso de a gestação ser decorrente de um estupro.

            O que me choca, no caso da juíza Joana Ribeiro Zimmer, não é o fato de ela ter sido beneficiada com uma promoção por merecimento, sendo transferida de Tijucas para Brusque, na mesma semana em que veio a público a sua atuação para impedir que uma criança de 11 anos, vítima de estupro, exercesse o direito em interromper a gravidez decorrente do crime sofrido.

            O que me desestabiliza, no caso da juíza Joana Ribeiro Zimmer, não é a captura violenta da língua – a caracterização do aborto, pela literatura médica, em até 20 ou 22 semanas de gestação – para dar lastro ao seu parecer contra a interrupção de uma gravidez, repita-se,decorrente do estupro de uma menina de 11 anos.

            O que me atordoa, no caso da juíza Joana Ribeiro Zimmer, não é a quantidade de comentários, nos rodapés digitais das notícias de jornal, em apoio à decisão da magistradaou acionando uma certa bandeira prol-vida, que, a pretexto de salvaguardar a virtual existência de um nascituro, mostra-se tão pouco empática à concretude de um corpo violado em sua ainda infância.

            O que me tira o chão, no caso da juíza Joana Ribeiro Zimmer, não é o seu aproveitamento por plataformas discursivas conservadoras, as quais contaminam o espaço público do comum, idealmente laico, com o extremismo de uma moral religiosa pouco aberta a conceber o corpo, em destaque o feminino, em uma órbita que não seja a do controle e a da punição.

            Não é a série de absurdos: a lei em segundo plano; a “coincidência” triste e fora de hora da promoção; a violação da língua e pela língua, o descompasso entre o amor demasiado por quem ainda não é e a impassibilidade diante do drama de quem já vive, ou, a redução moralizante do debate público.

            O que me quebra a espinha, no caso da juíza Joana Ribeiro Zimmer, é a crueldade, presente em cada letra e em cada inflexão de voz, da pergunta: “suportaria ficar mais um pouquinho?”.

            O que me fode, no caso da juíza Joana Ribeiro Zimmer, é o sadismo, latente em cada letra e em cada inflexão de voz, da pergunta: “queres escolher algum nome para o bebê?”.

            O que me massacra, no caso da juíza Joana Ribeiro Zimmer, é a subserviência ao lugar de poder do Pai sobre o corpo feminino, o que é notável em cada letra e em cada inflexão de voz da pergunta: “você acha que o pai do bebê concordaria com a entrega para adoção?”.

            O que me mata, no caso da juíza Joana Ribeiro Zimmer, é a tentativa de persuasão, conduzida pela promotora Mirela Dutra Alberton, que, ressituando a vítima como agente da crueldade, investe em uma espécie de terrorismo psicológico a partir do recurso ao horror: “em vez de deixar ele morrer, porque ele já é um bebê, já é uma criança, em vez de a gente tirar ele da tua barriga e ele morrer agonizando, porque é isso o que acontece. Porque o Brasil não concorda com a eutanásia, o Brasil não vai dar medicamento para ele”.

            E quem ouve é uma menina. Criança de 11 anos. Vítima de estupro.

            Uma menina. Criança de 11 anos. Vítima de estupro.

            Criança. 11 anos. Vítima de estupro.

            11 anos. Vítima. Estupro.

            E não é para esta menina, criança de 11 anos, vítima de estupro, que se direciona a empatia da juíza Joana Ribeiro Zimmer ou da promotora Mirela Dutra Alberton.

Não a qualquer forma de violência física ou psicológica. Essa luta é de todos nós.

A LUTA CONTINUA. JOHNI VIVE!

Imagem: IStock – reprodução da internet

22/06/2022 | Autor: Comunidade Johni Raoni 

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